A paisagem era linda: uma floresta de pinheiros na
encosta de uma colina. O rumor do rio, que corria num leito de pedras no fundo
do vale, era o único som que se podia ouvir enquanto o crepúsculo tingia o mundo de vermelho. Nada disso, entretanto, importava
a Dmitri. Sua respiração estava ofegante, o suor e a expressão de dor em seu
rosto denunciavam mais sua idade do que os cabelos brancos em suas têmporas.
Mesmo assim, ele não parava de correr. Continuar significava a diferença entre
a vida e a morte. Ele corria sem parar, sem olhar para trás, mas seu fôlego de homem
velho não agüentaria por muito mais tempo. Era preciso encontrar um esconderijo
antes que anoitecesse, ou ele não teria chance.
quinta-feira, 23 de maio de 2013
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Sozinho
A claridade que invadia o quarto pelas frestas da veneziana
atingiu os olhos de Adão e, naquele momento, ele soube que seu despertador
havia mais uma vez falhado de forma inexplicável. Passava das oito horas e este
seria seu segundo atraso na semana.
Por ser funcionário público, tinha alguma flexibilidade de
horário, o mais difícil era suportar as cobranças de seu chefe, um velho
rabugento que parecia odiá-lo pelo simples fato de existir. O Sr. Emanuel era
um homem alto, corpulento, de pele muito clara e cabelos prateados. Seu rosto
era vermelho e tinha sempre a mesma expressão de desprezo por tudo e por todos.
Ele era um respeitado diretor no governo, um homem com experiência e carreira
exemplares. No entanto, não nutria grande apreço e respeito por seus
subordinados, a menos que estes andassem de salto alto, saias curtas e
exalassem um perfume suave de jasmim. Era um mulherengo incorrigível e ninguém
que o cercava podia acreditar que ainda não tivesse sofrido um processo por
assédio sexual, já que ele analisava decotes melhor do que qualquer relatório.
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