segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A Escadaria

A escadaria era íngreme, mas ele nem se dava conta da dor em suas pernas, nem do suor que escorria pelo rosto. Nada mais importava. Sua busca acabaria no final daquela sucessão interminável de degraus.

Estava em um prédio antigo, no centro da cidade. O letreiro sobre a porta de entrada dizia apenas: “hotel”. Não era o Caesar ou o Ritz, não havia tapete vermelho, nem manobrista à porta. Era apenas um local sem nome, perdido no submundo. O lugar perfeito para quem não queria ser notado.

Degrau após degrau, cada passo o deixava mais próximo do seu objetivo. Sua mão deslizou sob a camisa e encontrou o cabo da faca. Quanta ironia. Aquele objeto havia sido um presente dela. Ele revivia em sua mente atormentada aqueles momentos que agora mais pareciam um sonho distante. Talvez nada daquilo tivesse realmente acontecido.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O Prisioneiro


O prisioneiro abriu lentamente os olhos. Estava acorrentado a uma cadeira. Não podia se mover, porque a cadeira estava firmemente parafusada ao chão. Ele sabia que ela havia sido preparada especialmente para recebê-lo.

- Você conhece a lenda de Prometeu? – indagou o captor.

Nenhuma palavra saiu da boca do prisioneiro. Suor escorria de sua testa e se misturava ao sangue seco. Estava nu. Havia uma enorme ferida ensangüentada onde antes estivera sua orelha esquerda. Três dentes quebrados, duas costelas trincadas e dois dedos dos pés esmagados a marteladas. Ele resistiu muito mais do que se poderia esperar antes de desmaiar.


O captor estava sentado, de frente para o prisioneiro. Seu cabelo molhado de suor, suas roupas salpicadas de sangue, em suas mãos havia um alicate-de-ponta, com o qual ele brincava nervosamente enquanto falava.